quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Roubando no Peso


Antigamente o quitandeiro desonesto era aquele que roubava no peso. Ok, caro jovem leitor, quitanda era uma vendinha que tinha verduras, frutas, grãos, e, se bobear, servia café, bebidas alcoólicas e lanches. Com o advento da globalização, os supermercados menores foram absorvidos pelos maiores, e o quitandeiro foi fazer outra coisa da vida.
No entanto, ainda existe um monte de gente que "rouba no peso", de maneiras sutis. Por exemplo, o papel higiênico. Há 10 anos atrás, o tamanho padrão de um rolo era 50 metros. Daí, um grupo de produtores de papel "tissue" resolveu, por conta própria, reduzir o tamanho para 30 metros... na época houve polêmica, mas o fato é que o lobby papeleiro conseguiu convencer a legislação, e o padrão agora são os tais 30 metros, sendo que quando você encontra um papel de 50 metros, observa que ele é "tamanho econômico" e paga mais por ele...
Sem tanta polêmica, já faz algum tempo que os fabricantes de leite em pó, ao menos os mais conhecidos, resolveram diminuir o conteúdo de suas latas ou pacotes em 100mg. O leite Molico era vendido em latas de 400g, e hoje só é encontrado em latas de 300g, bem como seus concorrentes, Itambé, La Serenissima, e outros. Ah, sim, o preço do leite disparou nos últimos 4 anos, de centavos de real para, em alguns casos, 2 reais - o leite longa vida, porque o em pó saiu de menos de 4 reais para 7, 8, 9 reais...
Exemplos como esses pululam nos supermercados. E quando não somos roubados no peso, somos enganados com produtos que substituem seus ingredientes por outros de qualidade inferior. Ou então suas versões Light, que chegam a custar simplesmente o dobro do valor, somente porque foi retirado gordura e inserido um espessante. É claro, além dos lights, tem os orgânicos... Domingo li na Folha de São Paulo a ótima frase: "Produtos com a palavra "orgânico" na embalagem têm mais interesse no seu dinheiro do que na sua saúde", da Psicanalista inglesa Susie Orbach, em uma entrevista sobre bulimia. Somos alvo, o tempo todo, de apelos que nos façam gastar um pouco mais, por menos. Saber disso transforma você em um consumidor mais consciente. Mas isso não basta. Nos acostumamos a ver como "chato" aquele que vai atrás dos seus direitos. Aquele que questiona. Em 2007, estive em Buenos Aires, e li um jornal de uma semana antes, com destaque para uma matéria que dizia que pessoas haviam ido às ruas protestar contra o aumento do preço do tomate. E olha que o tomate lá, mesmo com aumento, era muito mais barato que nosso tomate aqui. Pergunto: Você se vê indo à Avenida Paulista protestar contra o aumento de qualquer produto, por mais querido e necessário que este seja para você? Você se vê boicotando indefinidamente um produto, porque ele tem um preço abusivo? Mas quando o posto da rua de baixo cobra 10 centavos a menos o litro de álcool você vai lá, certo? Talvez porque esse tipo de protesto não exponha você nem aquilo que apresenta à mesa,,,

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